Sob o tema “Dai-lhes vós mesmos de comer!” (Mt 14, 16), a Festa de São Benedito será realizada de 10 (hoje) a 14 de deste mês, com largo e terços, ladainhas e missas na frente e na Igreja de N.ª Sr.ª do Rosário dos Pretos, na Rua do Egito (Centro). Programação: 10 de agosto, terço (às 18h30min), ladainha (às 19h) e missa (às 19h30min); 11 de agosto: terço(às 18h30min), ladainha (às 19h) e missa (às 19h30min); 12 de agosto: terço (às 18h30min), ladainha(às 19h) e missa (às 19h30min); 13 de agosto (domingo): missa (às 7h30min), missa(às 9h), missa (ao meio-dia), missa (às 17h); logo após, sairá à procissão; e 14 de agosto (encerramento): terço (às 18h30min), ladainha (às 19 h), e missa (às 1930min), com a bênção do Santíssimo.
Em homenagem, simultaneamente, à Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, tem à frente da organização a Associação dos Amigos de São Benedito. Nossa Senhora do Rosário dos Pretos protegeu, em sua igreja, escravos que fugiam da fúria dos senhores. Sua irmandade comprou alforria dos cativos e não os deixou sem lugar para sepultamento.
As informações mais remotas para alcançarmos a Igreja de N.ª S,ª do Rosário dos Pretos, que receberia a imagem de São Benedito, dão conta de que o primeiro Convento do Carmo foi construído em 1615, após a expulsão dos franceses, os fundadores da Cidade, em um terreno doado pelo então Comandante Alexandre de Moura, o Sítio de Monsieur de Pineau, posteriormente, Carmo Velho, onde hoje se localiza a igreja da santa, na Rua do Egito. O outro foi doze anos depois, porque o primeiro não suportou os descuidos e as dificuldades em mantê-lo habitável. Desta feita, a substituição foi realizada por três frades carmelitas que vieram de Pernambuco e iniciaram os trabalhos de construção em 1627. “Foi na Colina de Santa Bárbara, hoje bem no Centro de São Luís, na Praça João Lisboa e Largo do Carmo!”— elucidou ao repórter o pesquisador cultural e antropólogo, ligado à igreja católica e estudioso das entidades de culto de matriz africana (Casa das Minas e Casa de Nagô), Sebastião Cardoso, que evidenciou mais: “Com a doação dos carmelitas, a Irmandade de N.ª S.ª do Rosário dos Pretos, entre 1772/76, levantou a igreja com aquela invocação, e, por que escravos não assistiam missa ao lado dos brancos, nem enterrados no cemitério destes, passou a arrecadar dinheiro para a compra de alforria dos escravos e para o sepultamento deles no templo!”
São Benedito na Igreja do Rosário — Com uma massa de fiéis e já protetor do tambor-de-crioula e seus brincantes, São Benedito, com altar uma vida na Igreja de Santo Antônio, festeiro todo em abril, tinha um senão: Não deixava os alunos do seminário no silêncio necessário. Para agradar a gregos e a troianos, em 1946, o então arcebispo de São Luís, D. Adalberto Sobral, levou São Benedito, com sua festança toda, para a Igreja de N.ª S,ª do Rosário dos Pretos.
“Levantou a casa da mãe dele!” — Sebastião Cardoso avivou que com a igreja em ruínas e sua irmandade em decadência, a de São Benedito se mobilizou e restaurou a igreja para ele ser recebido. “Ele levantou a casa da mãe dele!”— assinalou, crente, Sebastião Cardoso.
Uma devotada pagadora de promessa paraense — Gigliola Oliveira (Gigi), paraense de quatro costados, não só vem pagar sua promessa a São Benedito quanto se engaja na Associação de Amigos dele, ficando responsável pela confecção do manto de N.ª S.ª do Rosário dos Pretos e pela veste de São Benedito. Sua intenção é cumprida pela graça alcançada com o restabelecimento da saúde do seu genitor, Raimundo Nonato Colares Camargo, qual disse ao repórter enquanto tecia o manto da padroeira: “Ele contraiu há uns anos um câncer no pâncreas, um dos mais agressivos, quando rogamos muito ao glorioso São Benedito, com que a doença regrediu, e assim todos os anos ele vem para as celebrações, em São Luís, com familiares de Belém e Santarém!”
A História de Benedito, filho de escravos — Benedito (que significa abençoado) nasceu perto de Messina, na ilha da Sicília, Itália, no ano de 1526. Seus pais foram escravos vindos da Etiópia para a Sicília. O casal não queria ter filhos para não gerarem mais escravos. O senhor deles, sabendo disso, prometeu que, se eles tivessem um filho, daria a ele a liberdade. Assim, eles tiveram Benedito. E, como prometido, ele foi libertado pelo seu senhor ainda menino. Benedito foi educado por seus pais na fé cristã. Quando menino, cuidava das ovelhas e sempre aproveitava para rezar o Rosário, ensinado por sua mãe.
Com os eremitas franciscanos — Quando tinha 20 anos, foi insultado por causa de sua raça. Porém, com muita calma e paciência suportou tudo. Vendo isso, o líder dos eremitas franciscanos, Frei Jerônimo Lanza, convidou-o para fazer parte da congregação. Ele aceitou prontamente, vendeu tudo o que tinha e se tornou um eremita franciscano, ficando com eles por volta de cinco anos.
Com os franciscanos capuchinhos — O Papa Pio IV, desejando unificar a ordem franciscana, ordenou aos eremitas que se juntassem a qualquer ordem religiosa. Benedito foi para o mosteiro da Sicília, um convento em Santa Maria de Jesus. Era o convento dos franciscanos capuchinhos. Entrou como irmão leigo, assumindo uma função tida como secundária: a de cozinheiro. Contudo, fez da cozinha um santuário de oração e fervor. Vivia sempre alegre e com muita mansidão, conquistando a todos com sua comida saborosa e sua simpatia.
Superior do mosteiro — Por causa de sua vida exemplar, trabalho, oração e ajuda a todos, Frei Benedito tornou-se um líder natural. Em 1578, foi convidado para ser o Guardião (superior) do mosteiro, cargo que aceitou depois de muita relutância. Apesar de ser analfabeto, administrou o mosteiro com grande sucesso, seguindo com rigor os preceitos de São Francisco. Organizou os noviços, foi caridoso com os padres, era o primeiro a dar exemplo nas orações e no trabalho.
Procurado pelos teólogos — Os teólogos vinham de longe para conversar com e aprender com ele. Frei Benedito tinha o dom da sabedoria e o dom da ciência. E, apesar de sua condição de analfabeto, ensinava a todos.
Um dos santos mais populares no Brasil – Todos queriam ver e tocar em São Benedito, por causa de sua fama de santidade, palavras, milagres e orações. Os escravos o cultuavam, por ser negro, pobre e com grandes virtudes. Em torno do seu nome surgiram numerosas irmandades. São Benedito é um dos Santos mais populares no Brasil, com inúmeras paróquias por todos os lugares inspiradas em seu modelo de humildade e caridade.
Os milagres de São Benedito — Grande é o número de milagres de São Benedito, inclusive a ressurreição de dois meninos, a cura de vários cegos e surdos, a multiplicação de peixes e pães. Alguns milagres de multiplicação de alimentos aconteceram na cozinha de São Benedito. Por isso, ele é tido carinhosamente pelo povo como o Santo Protetor da Cozinha, dos Cozinheiros, contra a fome e a falta de alimentos.
Texto: Herbert de Jesus Santos